Subindo a rua do mercado, de mãos dadas com o meu pai, avistei a vendedora de castanhas. A feira nos proporciona uma experienciação quase que apoteótica... -. A vida pulsa discrepante, naquele aglomerado de restos. E, em meio a essa amálgama, uma juvenil adornava o feio. O decote que, vez por outra, insinuava os mamilos; a barriga, com seu umbigo desafiador; as sacudidelas da bacia, que expunham as coxas... - Contribuíam para as maledicências. Por ser miscigenada, a feira sugere muitos boatos. Assim, todos os "fuxicos" eram dela. Os fregueses degustavam a iguaria sem apartar os olhos da menina. O seu jeito lascivo provocava o ambiente, naturalmente, conturbado. Acercava-se dos fregueses com fascinação; e agregava ao magusto uma uma hilaridade. Porém, a pubescente não era uma exibicionista, por assim dizer. Fingi-me de interessado por um cordel apenas para observá-la, mesmo de soslaio. – Veio até mim. – Castanha? - Aceitei, encabulado. A danada tinha persuasão, – Muito embora, inconsciente... - Porém, foi só me distrair, para perdê-la por entre os bancos da feira - Que aos sábados engoliam as ruas, por costume. Quem seria aquela moça que escamoteava por ali com sua bacia presa às ancas, despertando a libido alheia? – Ninguém sabia! – Era verdade. Para quê um nome? A fulana tinha ao seu favor, o mistério; portanto, uma afortunada. A minha ousadia, ao mesmo tempo, divisava o que era descabido. Seguimos caminhos separados... – Mesmo, hoje, quando volto ao mercado procuro a vendedora... - Que fez parte do meu imaginário de criança. Talvez querendo perdoar a mim mesmo do que se fez pecado. E, quando não a encontro, penso que está faltando um pouco de graça... - É isso, um pouco de graça!
Mín. 24° Máx. 35°